Airbnb movimenta bilhões e transforma a lógica da moradia no Rio
Parece até história de filme: em apenas alguns anos, o Airbnb virou protagonista absoluto no mercado imobiliário do Rio de Janeiro. O número impressiona: já são 28.154 anúncios ativos só em setembro de 2024. O boom ganhou força embalado pelo turismo, que bateu recordes em eventos como o Carnaval e o mega-show da Madonna, que arrastou incríveis 1,6 milhão de pessoas para a praia de Copacabana. Isso trouxe uma enxurrada de estrangeiros, oportunidades para investidores e números nunca antes vistos na economia do aluguel por temporada.
Essas mudanças sacudiram não só as praias, mas toda a dinâmica de moradia na cidade. Os anfitriões profissionais se destacam nesse cenário. Omar Do Rio, por exemplo, controla 184 imóveis listados e lucra mais de 6 milhões de dólares por ano. Outra gigante, Villas In Brazil, cuida de 27 imóveis que rendem 5,6 milhões de dólares anualmente. Os dados chamam ainda mais atenção quando se olha para o desempenho dos apartamentos: uma taxa média de ocupação de 42%, com diárias girando em torno de 109 dólares. Isso deixou claro para muita gente—especialmente para quem tem imóvel na zona sul—que apostar nos turistas pode ser mais rentável do que fechar contrato com um inquilino fixo.

Zonas turísticas viram epicentro da disputa e elevam preços
Ipanema e Copacabana, destinos de cartão-postal que já viviam sob alta demanda, viram os anúncios do Airbnb crescerem 24% desde 2019. Quem procura moradia fixa no bairro sente na pele: fica cada dia mais difícil encontrar apartamentos acessíveis e sem mobília de temporada. Proprietários dão preferência a estrangeiros e visitantes temporários, e os tradicionais contratos de aluguel perdem espaço para estadias rápidas e tarifas em dólar.
Esse novo ciclo alimenta os preços nos bairros preferidos pelos turistas, criando um efeito em cascata. O rendimento dos alugueis de curto prazo, além de cobrir facilmente custos de condomínio e manutenção, ainda rende em moeda valorizada. O movimento também beneficia quem vê no Airbnb uma saída para driblar inflação e oscilações do mercado tradicional. Mas na outra ponta, famílias cariocas sentem os impactos diretos: a oferta de moradia permanente encolheu e, quando aparece, custa muito mais caro.
Isso não passa despercebido pelo poder público. O governo federal aposta em atrair 7 milhões de turistas internacionais no ano. A receita das hospedagens temporárias é vista como trunfo para a economia, mas abre uma série de questionamentos. Quem vive de aluguel sente o baque na hora de negociar contrato; já quem tenta comprar um imóvel para morar encara preços turbinados pela especulação. E o debate esquentou de vez na Câmara: vereadores discutem limites, cobrança de taxas extras e regras para tentar equilibrar o jogo.
Moradores reclamam de barulho, insegurança e até falta de sensação de pertencimento nos prédios, já que vizinhos mudam semana a semana. Investidores, por outro lado, defendem que a oferta profissionalizada de temporada moderniza o turismo e amplia o potencial de ganhos. O saldo desse embate ainda está longe de um consenso. Por enquanto, a cidade segue dançando conforme a música do Airbnb—com lucros altos para quem aluga, mas desafios crescentes para quem precisa de um teto fixo.